– alerta investigadora sul-africana
- Em 2022, Google consumiu mais de 28 mil milhões de litros de água potável, para arrefecer centros de dados
O brilho sedutor das plataformas digitais esconde um custo ambiental e humano alarmante. Equipamentos que sustentam os grandes centros de dados, nomeadamente motores invisíveis da internet e da inteligência artificial, estão a consumir quantidades gigantescas de água potável e energia, essenciais à sobrevivência humana.
O alerta foi lançado pela investigadora Anais Nony, do Instituto para Estudos Avançados de Joanesburgo, na Terça-feira (20/05), durante uma palestra na Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS) da Universidade Eduardo Mondlane.
“A água e energia, que hoje precisamos, estão a ser consumidos na produção destas tecnologias”, lamentou a académica, numa intervenção provocadora inserida nos seminários interdisciplinares do Departamento de Arqueologia e Antropologia.
Segundo Anais Nony, a escalada do consumo de recursos naturais pelas gigantes tecnológicas representa uma inversão drástica de prioridades globais. Como exemplo, citou a Google, que em 2022 utilizou mais de 28 mil milhões de litros de água potável para arrefecer os seus centros de dados, volume superior ao consumo anual de muitas cidades.
O paradoxo é gritante: enquanto dois terços da população mundial têm acesso à internet, uma em cada quatro pessoas continua sem acesso a água potável em casa. E as previsões são sombrias: até 2030, estima-se que 1,6 mil milhões de pessoas permanecerão sem água potável segura.
Contudo, a investigadora foi além das questões ambientais. Numa crítica contundente à era digital, alertou para os efeitos neurológicos da dependência tecnológica, pois a superexposição às plataformas digitais está a enfraquecer a nossa capacidade crítica, analítica e de memória.
Estudos citados por Nony revelam que o uso intenso de smartphones está ligado à diminuição da predisposição para o pensamento analítico profundo, com os indivíduos a recorrerem cada vez mais a respostas rápidas e superficiais, muitas vezes mediadas por inteligência artificial.
“A informação de baixa qualidade e enganosa está a proliferar, pelo que, são necessários novos hábitos mentais para resistir a esses conteúdos”, alertou.
Entre as soluções propostas, estão exercícios simples, mas eficazes: ler diariamente, durante 20 minutos, um livro físico ou jornal, manter o telemóvel fora do campo de visão sempre que possível, e desligar notificações não essenciais.
A sessão, que contou com ampla participação de estudantes e docentes, foi encerrada pela Prof.ª Doutora Sandra Manuel, Chefe do Departamento de Arqueologia e Antropologia, tendo dito que o encontro permitiu reflectir como o meio académico ocupa o espaço virtual, principalmente com o surgimento da Inteligência Artificial.
Num momento em que o mundo corre para digitalizar todos os sectores de actividade, reflexão trazida por Anais Nony, lembra que o futuro sustentável exige mais do que tecnologia, isto é, exige consciência crítica e escolhas éticas.