– Dr. Milton Mapatse, Director do HEV
A nossa reportagem escalou, esta semana, o Hospital Escolar Universitário e entrevistou o seu Director, o Dr. Milton Mapatse, que falou daquele que é o único hospital público que se dedica à preservação da saúde animal, mas sobretudo à formação de quadros veterinários, representado o polo de extensão da Faculdade de Veterinária da UEM.
O único hospital veterinário público do País tem estado a contribuir para a formação de quadros e para a saúde animal em Moçambique, atendendo actualmente cerca de 1500 animais por ano, e acolhendo estudantes da Faculdade de Veterinária para as aulas práticas. Em entrevista ao Jornal da Comunidade (JC), o Dr. Milton Mapatse fala dos serviços que o hospital oferece, do trabalho feito para a preservação da saúde animal, bem como, da relevância daqueles serviços como forma de preservar, por extensão, a saúde humana. Apesar dos desafios, o hospital mantém-se como a melhor alternativa para a saúde animal no País, sobretudo pelo seu carácter público e os preços acessíveis, embora careça de algumas melhorias para assegurar a competetividade e a prestação de serviços de investigação cada vez melhores para a sociedade.
Quantos animais o Hospital atende por dia?
Primeiro vou falar por ano. Anualmente, atendemos cerca de 1500 animais, entre cães, gatos e pequenos ruminantes. Quanto aos bovinos, fazemos o atendimento nos seus locais de criação. Fazendo a média, aqui no Complexo Clínico-Cirúrgico, localizado no Campus da Faculdade de Veterinária da UEM, na Avenida de Moçambique, atendemos diariamente entre 5 a 7 animais, que vem por diversos motivos. No Serviço de Consulta Externa, localizada na Avenida Emília Daússe, e que também pertence ao Hospital Escolar Veterinária, a média de pacientes atendidos por dia é de cerca de 7.
Qualquer pessoa pode trazer o seu animal para ser atendido neste hospital?
Sim, qualquer pessoa. Nós estamos abertos para todos, recebemos clientes de outras províncias como Inhambane e Gaza, mas a maioria dos nossos utentes são daqui da Cidade e Província de Maputo.
Que condições de atendimento o hospital oferece? Tem equipamento necessário para melhor atendimento?
Precisamos de novos equipamentos. Por exemplo, a nossa máquina de Raio-x é muito antiga e está quase que obsoleta. Precisamos de nova máquina e de preferência digital. Precisamos de uma máquina de bioquímica, apetrechar os nossos laboratórios, material para o nosso teatro cirúrgico, incluindo para enfermaria e outros diversos sectores do hospital. Precisamos melhorar em termos de infraestruturas e equipamentos hospitalares para a nossa instituição. Mas, em termos de infraestruturas, já há muito tempo que foram reabilitadas. Precisam de reabilitação.
Dr., no fundo o que está a dizer é que a qualidade dos serviços reduziu por falta de condições?
Sim, principalmente se pensarmos que este é um hospital escolar e os estudantes precisam de aprender com as melhores condições, para estarem melhor preparados e capacitados para o mercado de trabalho. Então, se nós não temos equipamentos modernos, laboratórios bem equipados, acaba criando uma lacuna para aquela que é a nossa missão, que é de formar com qualidade.
Os valores são acessíveis?
Por ser um hospital público e escolar, claramente que tem que ser acessível. Para já, este é único hospital veterinário público em Moçambique, então, comparativamente a outros hospitais privados, claramente que temos os preços mais baixos.
Que patologias os utentes mais têm apresentado?
São diversas. Temos problemas ortopédicos que surgem por conta de acidentes, problemas infecciosos, urinários, dermatológicos, neurológicos. Mas, com maior frequência, temos recebido animais com problemas gastrointestinais, e uma das doenças que mais apoquenta a população canina da nossa cidade e província é a parvovirose, uma doença viral que afecta o sistema digestivo dos cães.
Das doenças que têm sido apresentadas, há algumas que oferecem perigo para o ser humano?
Claramente, acho que já devem ter ouvido falar da raiva. Esta é uma doença muito perigosa que afecta não só os animais, mas também o homem e pode passar de animais como cães e gatos para o homem. Mas, também, temos muitas outras como a leptospirose, toxoplasmose e algumas que ainda carecem de confirmação da sua ocorrência aqui em Moçambique.
O hospital tem feito algum trabalho com as comunidades no sentido de sensibilização para a vacinação?
Sim. O maior trabalho que fazemos, durante as actividades de Julho, as AJUs, é mesmo participar das campanhas de vacinação antirrábica, incluindo o Dia Mundial da Raiva, que se celebra no dia 28 de Setembro de cada ano. Participamos e fazemos campanhas de vacinação e sensibilização, de modo que a população traga os seus animais para a vacinação, principalmente contra essa doença que é a raiva, que não só a afecta os animais mas também o homem e as suas consequências podem ser fatais se não forem vacinados.
Qual é o perfil dos utentes?
É diversificado. Vamos desde crianças, estudantes, funcionários públicos entre outros. É difícil especificar com exatidão o perfil dos que procuram os nossos serviços.
Os serviços são pagos? Sim, e é por isso que o hospital consegue se auto-sustentar, graças ao pagamento que recebemos pelos serviços prestados.
O que pode ser feito para evitar essa doença?
A melhor forma de evitar é por meio da vacinação e nós fazemos a vacinação contra esta doença mas, infelizmente, nem toda a população consegue fazer a vacinação dos seus animais, de modo que, posteriormente, acabam dando entrada ao hospital com sinais de doença gastrointestinal, diarreias e etc.
Essa sensibilização tem sido só em Maputo ou em todo o país?
Ao nível da Faculdade de Veterinária e do Hospital Escolar Veterinário, cingimo-nos na Cidade e Província de Maputo mas, ao nível de outras instituições como o Ministério de Agricultura, essas campanhas são feitas em todo o território nacional.
Sendo este um hospital universitário com a vertente também de investigação, como tem sido a articulação?
Nós trabalhamos directamente com a Direcção Adjunta para Investigação e Extensão daqui da Faculdade e temos tido apoio na medida em que recebemos estudantes para estágios aqui no hospital e, desses estágios, às vezes surgem trabalhos que resultam em trabalhos de culminação de estudos de licenciatura e pós-graduação. Mas, também, temos alguns projectos que ocorrem aqui no hospital.
Quais são os principais desafios do hospital?
Neste momento, o maior desafio é em termos de recursos humanos. Este hospital é grande e, infelizmente, nos últimos tempos, temos sofrido um défice em termos de recursos humanos. Há colegas que já reformaram, outros faleceram e, como neste momento não se está a contratar novo pessoal, as poucas pessoas que trabalham no hospital não conseguem responder àquilo que são as demandas diárias. Então, o grande desafio agora é tentar contratar mais pessoal, incluindo médicos, de forma a dar mais robustez às nossas actividades e corresponder a demanda pelos diferentes serviços. Outro grande desafio é mesmo em termos de equipamento. Temos que equipar o hospital com equipamento moderno, os nossos laboratórios precisam de mais equipamentos, mais reagentes. Se conseguirmos ultrapassar estes desafios, o nosso hospital tem tudo para ser um dos melhores hospitais de Moçambique.