Num ambiente onde se cruzaram sotaques, memórias e identidades, a Universidade Eduardo Mondlane celebrou, esta Segunda-feira (05/05), o Dia Mundial da Língua Portuguesa, com um olhar atento às raízes que sustentam o multilinguismo moçambicano. Mais do que enaltecer a “língua de Camões”, o simpósio, realizado sob o lema “A Língua Portuguesa de Moçambique nos estudos linguísticos e literários” serviu também de palco para um apelo vibrante à valorização das línguas bantu, que continuam a pulsar no quotidiano dos moçambicanos.
A Professora Doutora Perpétua Gonçalves, investigadora da UEM, defendeu que reconhecer e valorizar as línguas bantu é tão urgente quanto necessário, num país onde estas continuam, em muitos espaços, a ser marginalizadas. “Foram vistas, durante muito tempo, como entrave à unidade nacional”, disse, recordando que apenas recentemente se começaram a dar passos significativos com a introdução do ensino bilingue e a criação de cursos específicos, como a Licenciatura em Ensino de Línguas Bantu, na própria UEM.
Apesar dos avanços, Gonçalves alertou que ainda há um longo caminho a percorrer. Para esta investigadora, é perfeitamente possível e desejável que os cidadãos moçambicanos aprendam e dominem o português, sem abdicarem das suas línguas maternas. “Reclama-se que as línguas bantu estão a desaparecer e este é um problema de política linguística, pois os falantes podem, muito bem, aprender o português e continuarem a falar, em simultâneo, a sua língua materna nos diferentes contextos” , destacou.
Por sua vez, o Embaixador de Portugal em Moçambique, António Costa, realçou o valor estratégico da língua portuguesa no plano político, económico e cultural global. Sublinhou, ainda, que “a escolha do português como uma língua oficial em Moçambique foi uma preferência dos moçambicanos para a manutenção da unidade nacional e a criação de uma identidade nacional comum.”
Por seu turno, o Director da Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Prof. Doutor Eduardo Quive, destacou a importância do ensino da língua portuguesa na UEM, apontando para os dois cursos directamente vocacionados para a sua investigação e docência: “a língua portuguesa é parte da nossa cultura, por isso, temos dois cursos relacionados, nomeadamente o Curso de Licenciatura em Ensino da Língua Portuguesa e o Curso de Licenciatura em Linguística”, reconheceu.
Também presente no simpósio, o Prof. Gilberto Matusse traçou um panorama da evolução dos estudos literários no país, desde os anos 1990 até aos dias de hoje, notando uma mudança de foco. “Agora começa a haver um número cada vez maior de estudos dedicados à autores e obras específicas, o que não significa desaparecimento de estudos genéricos, mas apenas redução”.
Assim, entre debates, reflexões e convites à acção, a celebração do Dia Mundial da Língua Portuguesa na UEM transformou-se num tributo à pluralidade linguística moçambicana, onde o português e as línguas bantu não são rivais, mas vozes complementares de uma nação rica em diversidade.