HomeNOTÍCIASCrescimento urbano e modernização desafiam preservação do património histórico em Maputo

Crescimento urbano e modernização desafiam preservação do património histórico em Maputo

O crescimento urbano acelerado está a colocar sérios desafios à preservação do
património histórico na cidade de Maputo. Esta preocupação foi destacada durante o
workshop subordinado ao tema “Os desafios de gestão patrimonial em espaços urbanos
de Maputo”, realizado na Fortaleza de Maputo por ocasião do Dia Internacional de
Monumentos e Sítios, celebrado a 18 de Abril.
Durante o encontro, especialistas defenderam que o desenvolvimento urbano, embora
necessário, entra frequentemente em conflito com os esforços de conservação do
património cultural e arquitectónico. A modernização da cidade, aliada ao crescimento
populacional e económico, tem pressionado bairros históricos, contribuindo para a
descaracterização de espaços com valor cultural e a marginalização de práticas
tradicionais.
Segundo o arquitecto Ângelo Happy, da Direcção Nacional do Património, a
mercantilização crescente dos espaços culturais transforma-os em atracções comerciais,
comprometendo a sua autenticidade. Acrescentou ainda que “a expansão não planeada
resulta em problemas como congestionamento, falta de saneamento básico, riscos de
inundações”, levando a destruição de edifícios históricos. Para Happy, “há um embate
entre preservar a autenticidade dos espaços ou adapta-la às novas demandas económicas
e turísticas.”
Outro aspecto apontado tem a ver com a antiguidade dos monumentos e sítios históricos
moçambicanos. A maioria foi construída antes de 1920, com materiais e técnicas hoje
obsoletos ou indisponíveis no mercado, o que dificulta intervenções de restauro
fidedignas. Essas estruturas exigem conhecimento técnico específico, materiais
apropriados e profissionais altamente qualificados, cuja formação ainda é escassa no
país.
A arqueóloga e docente da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade
Eduardo Mondlane, Drª Arti Chandra, reconheceu que têm havido avanços na
preservação do património, sobretudo na formação de quadros e na realização de alguns
projectos de restauro. No entanto, lamentou que muitos monumentos continuem
visivelmente degradados, nalguns casos abandonados, e, sobretudo, com fraca ligação
às comunidades locais que, muitas vezes, desconhecem ou não se sentem parte desse
património.
Os intervenientes defenderam a necessidade de adoptar estratégias sustentáveis para
proteger os monumentos e sítios históricos, entre elas a consolidação do planeamento
urbano integrado, a criação de zonas especiais para controlo das novas construções, o
estabelecimento de parcerias público-privadas para financiar projectos de restauro, bem
como a implementação de um cadastro digital que facilite o acompanhamento e gestão
desses espaços.
A Directora de Cultura da Universidade Eduardo Mondlane, Mestre Kátia Filipe,
explicou que o objectivo do workshop foi estimular a reflexão sobre como definir
patrimónios culturais que sejam resilientes face a desastres naturais e conflitos sociais.
Ao longo do dia, estudantes e profissionais de várias áreas realizaram visitas

pedagógicas à Fortaleza de Maputo e ao Museu Nacional da Moeda, numa iniciativa
que reforça o papel da educação patrimonial na valorização da identidade histórica e
cultural de Moçambique.

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